As Origens de Agostinho Gomes

A poucos meses do fim da I Grande Guerra, nasce Agostinho Francisco Gomes, a 7 de janeiro de 1918, na aldeia de Couto de Cucujães, concelho de Oliveira de Azeméis.

É filho de Manuel Francisco Gomes, emigrante no Brasil durante 26 anos e de Emília Augusta Marques, doméstica e administradora de pequenas propriedades pessoais.

Passou a infância em Cucujães (até aos onze anos) e em Singeverga (Minho), dos onze aos quinze. Fez a instrução primária na terra natal, na Escola Primária do Picoto. Os estudos secundários foram repartidos por diversas escolas – Colégio de Singeverga, Colégio de Oliveira de Azeméis e Colégio Coimbra, na cidade do mesmo nome, onde teve como colegas as futuras mulheres dos escritores Fernando Namora, Joaquim Namorado e Carlos Oliveira, nomes ligados ao movimento neo-realista português.

Entre 1936-1945, ao mesmo tempo que frequenta os estudos de Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Letras da Universidade de Coimbra e o Curso de Ciências Pedagógicas, Agostinho Gomes dá sinais de uma forte apetência para a escrita de crónicas, contos e poesia: «Sobre o peitoril da tua janela, os pardais madrugadores chilreiam… Para o campo, ó cavador!…» (Sonata do alvorecer, conto, in A Opinião, Set.1936). Neste período escreve com abundância para os jornais A Opinião (Oliveira de Azeméis), Estrela do Minho, Notícias d’Évora, A Voz Portalegrense, Diário de Coimbra, Correio do Minho e Correio de Azeméis.

Profundamente atento, observa e descreve tudo ao redor de si, desde o encolher de ombros do povo analfabeto, à expressão acabrunhada de alguns intelectuais, à apatia dos governantes.

Indigna-se ao tomar a dolorosa consciência da ambição dos povos que se digladiam e se exterminam no palco de uma nova Grande Guerra, levando os indivíduos, cada um por si «à socapa, e de que maneira quantas vezes, lutando pelo espaço vital…» («Balanço dum ano lindo…» Estrela do Minho, 19/01/1941).

Aos vinte anos de idade publica o seu primeiro livro, um pequeno volume de versos, eco da voz remota de um António Nobre, com a promessa de se libertar da cadência triste em futuro de trabalho, mais de carácter social e na linha modernista: «Deu entrada nas oficinas da Editorial Meio-Dia, do Porto, o livro “…Da minha saudade” do poeta conimbricense Agostinho Gomes» (Noticias d’Évora, 10/04/1940). Marco importante que o credibiliza como poeta no meio estudantil de Coimbra e como figura intelectual empenhada na sua formação clássica firme e expansiva.

Ávido de leituras diversas e de convívio literário participa ainda na criação da efémera tertúlia “Mensagem”, dissolvida pouco tempo depois, em 1942.

Agostinho Gomes tem como mestre Rebelo Gonçalves que o arrastou para a revista Brasília, estimulando-lhe a adoração pela literatura brasileira e Damião Peres, “o homem pequenino das lições gigantescas”.

Por esta altura, vários textos são escritos por um punho jovem que critica a sua geração: «A nossa juventude entre as frivolidades do «flirt» ou as seroadas que a depauperam malbarata uma das melhores partes da sua vida (…) em detrimento da sua própria instrução (…). A rapaziada estudantil, na maior parte não cura em o fazer, de igual modo, preocupando-se…em vomitar, maquinalmente, meia dúzia de definições «empinadas» nos compêndios ou nas sebentas» (A Opinião,22/09/1940). A crítica estende-se igualmente à “falta de consciência profissional” dos professores que são: «com raras exceções, tipos anacrónicos que, à frente dumas bancadas de jovens agarrados (…) ao princípio escolástico de que o mestre é três vezes mais que o aluno – magíster-, não se sabem moldar à psicologia dos alunos (…)» (idem).

O papel da mulher na sociedade portuguesa é também visto como uma constante preocupação. Deixada para trás por falta de instrução, a mulher é empurrada para leituras “cor-de-rosa” por um mercantilismo livreiro frequentemente a lançar o arpão à sua ingenuidade. «Oxalá um dia viesse em que um lume expurgatório varresse (…) do mercado, toda essa casta de literatura de cordel (…), não viesse longe o dia em que na escola e no lar, mestres e educadores comungassem dum mesmo e comum ideal: – convencer a mocidade, e em particular a feminina, da necessidade urgente duma cultura sólida (…)» (Voz de Portalegre, 1940).

Agostinho Gomes vai abordar várias vezes este tema. É um devoto da imagem da mulher, de tal modo que, ao lidar com as mulheres da família, adota um comportamento de excesso de proteção, reagindo, algumas vezes, como homem ciumento.

Pouco tempo antes de concluir a sua licenciatura, em 1947, faz editar pela Gente Nova mais um livro de poemas, intitulado mais um livro de poemas, intitulado Ladeira (A Opinião, 6/10/1945) e terá segunda publicação em 1964 pelas edições Nau.

«Ladeira (…) são versos impregnados de vibração humana que a alma moça do seu autor brotou espontaneamente, sob a forma estética da moderna poesia» (Correio de Azeméis, 10/11/1945). Estão assim lançadas as sementes para um longo percurso que Agostinho Gomes assume inteiramente numa perfeita simbiose com a carreira de professor de Português.

 

Um comentário

  1. Foi meu professor de português no Liceu Alexandre Herculano,no Porto.A ele devo o gosto que cultivo por Luis de Camões e em especial pela sua lírica.Quando se irritava com qualquer aluno utilizava frequentemente esta expressão:Ai,com quem eu casei a minha filha” .Que saudades.

    Um abraço a todos aqueles que privaram com o prof.Agostinho Gomes

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